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Tecnologia de ponta devolve autonomia a pacientes incapacitados por doenças do cérebro

Atualizado: 23 de fev. de 2021


O engenheiro de projetos José Luiz Seixas não esquece o susto que tomou no dia em que percebeu que podia andar e até correr sem qualquer ajuda. Diagnosticado aos 58 anos com Mal de Parkinson, ele viu sua autonomia esvair-se ano a ano, até deixá-lo com enorme dificuldade para andar ou até mesmo falar. Foi quando decidiu, a conselho médico, submeter-se a um implante de marca-passo cerebral.


— Eu fiz a cirurgia em outubro de 2014. Nos primeiros dias não senti diferença alguma. Até um dia em que acordei mais cedo, meio desanimado. Fiquei ainda um tempo na cama, mas depois resolvi me levantar e fui até a cozinha. Quando retornei, vi que Maria, a senhora que trabalha há quarenta anos na nossa casa, me olhava com espanto. Ela parecia muito assustada. Mas só quando ela disse “ele está andando” é que eu dei por mim. De repente, eu tinha recuperado movimentos e estava com a mesma capacidade física de anos antes. Foi a emoção mais pura que vivi. Nunca esquecerei este momento— conta José Luiz.


Os responsáveis pelo “milagre” que devolveu autonomia ao engenheiro, hoje com 74 anos e ainda trabalhando, foi o neurocirurgião Antônio De Salles e sua esposa Alessandra Gorgulho, também neurocirurgiã. De Salles foi precursor em radioneurocirurgia para tratamento de tumores e de diversas doenças neurológicas incapacitantes e vencedor do prêmio Cristal de Pioneiro em medicina no Canadá pelas suas invenções em aplicações do marca-passo cerebral.


Em novembro passado, De Salles, Gorgulho e sua equipe com especialistas em todas as doenças neurológicas e psiquiátricas passaram a integrar o time do Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or São Luiz, em São Paulo (SP), onde ajudam a montar um centro de tecnologia de ponta para neurocirurgias minimamente invasivas e robóticas.


Com mais de 500 cirurgias de implantação de marca-passo no Brasil e nos Estados Unidos e com milhares de radioneurocirurgias para a retirada de tumores do cérebro e tratamento de doenças como epilepsia, tremores e até Alzheimer, De Salles percorreu um longo caminho.Natural de Curitiba (RS), ele estudou em Goiânia (GO), onde se formou médico. Aos 28 anos, uma proposta de pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) levou-o ao doutorado em Biofísica no Medical College of Virginia, nos Estados Unidos. De lá, seguiu para a Universidade de Harvard, onde se especializou em Cirurgia Estereotáxica e Radiocirurgia. Mudou-se para a Suécia dois anos depois, para realizar um treinamento em Neurocirurgia Funcional.


Lá, foi professor na Universidade de Umeå por dois anos. Trabalhando no extremo Norte do país, no último hospital universitário antes do Polo Norte, De Salles atendeu a populações de esquimós. A experiência adquirida rendeu-lhe o convite para a Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, onde permaneceu por 25 anos até se aposentar. Trabalhou como professor em cirurgias minimamente invasivas, realizando pesquisas para o desenvolvimento de dispositivos e técnicas cirúrgicas.


De volta ao Brasil trinta anos depois, De Salles e Gorgulho criaram o Centro de Neurociências do Hospital do Coração e a NeuroSapeins®, antes de integrar a equipe da Rede D’Or. Tantos anos fora e tantos títulos profissionais não tiraram do médico o jeito simples. Tampouco arrefeceram a disposição para continuar estudando e pesquisando novas formas de tratamento para doenças que tanto assombram a vida de milhões de famílias brasileiras como Parkinson, Alzheimer, a Depressão. A simplicidade do médico ao falar, torna fácil a compreensão sobre a aplicação dessas novas tecnologias:


— Através de estímulos elétricos, o marca-passo atua em determinadas partes do cérebro, contribuindo para que ele controle, de maneira adequada, as demais funções do corpo, reduzindo os distúrbios químicos provocados pela falta de certos neurotransmissores. Com isto, é possível controlar sintomas de Parkinson, Epilepsia, Distonia e Depressão, por exemplo — explica De Salles.

Segundo ele, o método também é eficaz para o tratamento da obesidade mórbida:


— No tratamento da obesidade, o segredo está no aumento do metabolismo, contribuindo para a perda de peso. O tratamento provoca uma reação similar ao indivíduo que pratica exercícios físicos contínuos.


Entre as novidades que chegam à Rede D’Or São Luizpara a realização de radioneurocirurgias, estão dois equipamentos de ponta. O Cyberknife, único no Brasil, que está no Hospital Vila Nova Star; e o Gamma Knife,no Hospital DF Star, em Brasília.


— Estes equipamentos de robótica permitem a realização de neurocirurgias minimamente invasivas, e até não invasivas. Os raios Gama que funcionam como bisturi. Assim, é possível fazer uma cirurgia sem abrir a cabeça, através de cálculos matemáticos precisos que levarão estes raios ao ponto exato. A técnica é utilizada para tratar tumores, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Epilepsia, Parkinson, tremor e certas doenças vasculares.


Recentemente, De Salles também explicou sua ciência de forma inusitada no romance “O Cérebro do Jogador: Amor e Futebol”, já traduzido em quatro línguas e publicado em português pela editora Bonecker do Rio de Janeiro. No livro, em meio a um suspense de ficção científica, ele fala sobre as possibilidades cirúrgicas para pessoas com doenças psiquiátricas severas, que podem ser tratadas com implante de marca-passos ou com a Gamma Knife.


Ao seu pacote de grandes feitos para a ciência, o médico quer acrescentar mais um: está realizando pesquisas para o tratamento de uma das mais terríveis enfermidades que se tem notícia: a esclerose lateral amiotrófica (ELA). A doença — que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva _ acarreta a paralisia motora irreversível e a morte precoce como resultado da perda de capacidades cruciais, como falar, movimentar, engolir e até mesmo respirar.


— Os tratamentos estão avançando, mas ainda falta bastante conhecimento genético para alcançar a cura de doenças neurodegenerativas. Mas estes tratamentos ajudam a controlar os sintomas e garantem qualidade de vida para esses pacientes e suas famílias.

 
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